Temos a imensa satisfação de oportunizar, para o público de língua portuguesa, uma das obras clássicas da geografia internacional, até então publicada somente em língua francesa. Trata-se do livro Trabalho, espaço e poder, do geógrafo Claude Raffestin e da economista ambiental Mercedes Bresso, texto, como o/a leitor/a poderá verificar, ainda muito atual, de alta relevância acadêmica e social, bem como de intenso rigor teórico-conceitual. Partindo de uma instigante reflexão sobre o trabalho, relacionado à mão e ao cérebro, junto com a linguagem, Claude e Mercedes, criativamente, debatem o processo de urbanização e histórica difusão das inovações sociais, considerando conceitos geográficos e, claro, refletidos e qualificados também em outras áreas do conhecimento como espaço geográfico, território e territorialidade, nesta obra amplamente atualizados e contextualizados. A relação sociedade-espaço é intensamente mediada por relações de poder, que extrapolam o trabalho, mas têm, neste último, uma das suas essencialidades, no campo e na cidade, tornada fundamental na reprodução ampliada do capital a partir da produção e circulação de mercadorias. Entre apropriações e dominações, redes e fluxos, técnicas e imagens, o mercado vai assumindo centralidade na construção do espaço e determinação do território, condicionando a vida cotidiana em diferentes latitudes e longitudes, movimento histórico e geográfico muito bem identificado e explicado, detalhadamente, por Claude Raffestin e Mercedes Bresso. Por isto, convidamos todos/as os/as interessados/as no tema a mergulhar nesta obra, e participar do debate territorial com profundidade e o devido cuidado da vida cotidiana de todos e todas. Para Claude Raffestin e Mercedes Bresso, o espaço-tempo, historicamente, é tornado território, por meio das apropriações, linguagens, energias, comunicações, técnicas e dos fluxos, imerso num mundo cada vez mais fluído e controlado pelos sujeitos do mercado, amplamente dominadores e alienadores do trabalho, perpetuando-se distintas formas e relações de poder. Aí está, então, uma das principais contribuições desta obra, muito atual e relevante, ou seja, de explicar criticamente a íntima relação entre espaço e poder, mediada pelo trabalho condicionado e territorializado. Eis que surge, no final das suas argumentações, um sinal de alento e esperança, que pode ser amplificado por meio de uma concepção teórico-prática libertária de geografia e, de forma mais geral, de ciência, como fizeram muito bem Claude Raffestin e Mercedes Bresso. Marcos Aurelio Saquet