“Que livro importante, afiado e saboroso! Rita, a personagem-narradora, nos encanta desde as primeiras linhas com o seu olhar inquieto, muitas vezes impaciente e atrevido, poético e adoravelmente questionador. ‘Em passos silenciosos, a minha relação com o lugar se deslocou. No quintal serenado, fui invadida pelo desejo de sondar a capacidade humana de destruir coisas boas. As notas do rodapé prateado se apagaram, e o sol imprimiu no céu as cores solferinas das pedras rolantes do Paranapanema. Contemplei o olho do céu que se abriria no abissal precipício onde as palavras vagueiam. […] As coisas estão aí, espalhadas, guardando histórias.’ E Rita mergulha, vai no recôndito das águas, pisa nas pedrinhas pontudas de segredos que arranham e machucam demais. Fala de um lugar de nome Água do Almoço, que delícia! Nefa e Bento, seus pais, são personagens de uma riqueza humana impressionante. O mistério […] sobre a morte da irmã Adelaidinha, a festa da pamonha, o trabalho na roça, o sítio partilhado, os antepassados italianos, a professora de ‘voz sedosa como casca de jabuticaba’, a paixão por ler e estudar, o nome que é ‘um trem cheio de vagões’ que ela arrasta, ‘o abraço macio e quente’ da dona Ida, tudo é contado em águas, plantas e aves de poesia. A gente vai lendo e não quer parar. ‘Não sabemos quais conhecimentos gastronômicos se perderam ao longo do tempo em decorrência do genocídio das pessoas, da cultura, da floresta, dos rios e dos animais.’ História. Ficção. Memória. Este livro […] é um escândalo de beleza literária, é historiografia, é um susto na gente, um ponta-pé na porta da ignorância e da falta de consciência de classe. É um tapa estrondoso na hipocrisia e na ganância. Mas é também o inteligente atrevimento de Rita. É o seu amor pela terra e pelas aves. E mesmo depois de fechar o livro, a gente continua lendo. Porque o livro da Tereza vai se abrindo para mais e mais perguntas. Escrever literatura é perguntar.” (Stella Maris Rezende)