Somos obrigados a admitir o estabelecimento do bolsonarismo como um fenômeno que excede a esfera do político e atinge diretamente a dos valores morais, éticos, religiosos. É dessa maneira que sua agenda, retórica e prática operaram retrocesso tal que não encontra paralelo desde o golpe civil-militar de 1964. Bolsonaro e seus partidários atrasaram o relógio da história; eles retrocederam o tempo e, com isto, confundiram a própria percepção do presente histórico. Para conseguirem tal façanha, movimentam-se como se estivessem em modo arrebatamento. O bolsonarismo é um transe sui generis no qual a política converte-se em culto e o culto convertese em política. Esta fusão faz com que ambas as coisas tornem-se indiscerníveis e, portanto, muito perigosas.