Neste livro, somos convidados a mergulhar nas concepções espaciais próprias do povo indígena Auw? Xavante. Através da identificação de categorias-chave autóctones, a autora Maíra Ribeiro demonstra a conflitualidade e o choque entre estas e as concepções espaciais e territoriais da sociedade não indígena, hegemônica e com base capitalista. As análises e reflexões do livro ocorrem a partir do estudo das estratégias de resistência do povo Auw? frente aos avanços do agronegócio no leste de Mato Grosso, como resultado da pesquisa de mestrado defendido em 2023 pela Unesp. O fio condutor é Ró, uma categoria complexa e polissêmica, que pode nomear o lugar de vida ou a terra sem limites e em última instância pode ser compreendida como o próprio mundo auw?. Descrevendo o processo histórico que molda a atual configuração territorial, a autora destaca que a força motriz da ocupação não indígena que tem levado à destruição do Ró é a acumulação de capital, em especial, pela via da espoliação. A partir de mapeamentos da territorialização auw? e do agronegócio e da revisão de duas experiências de produção agrícola em larga escala na Terra Indígena Sangradouro/Volta Grande, a pesquisa evidencia a relação destes projetos com as disputas territoriais deste povo. Nestas disputas, Ró, enquanto espaço de liberdade, se opõe à prisão que representa a noção de território dos não indígenas. Assim, a categoria território encerra uma profunda contradição, pois se o território une a luta pela terra com a luta pela autodeterminação, por outro lado, a concepção ocidental de território perpassa pela aceitação da lógica do espaço limitado, privado e mercantilizado. Nesta contradição, a luta pelo território auw? é a luta pelo Ró, ainda que estas sejam dialeticamente categorias opostas. Marca: UNESP SD