Em O Amor De Uma Boa Mulher, Alice Munro Oferece Ao Leitor Mais Uma Fornada De Seus Contos De Fôlego, Marcados Pela Destreza Dos Planos Cinematográficos E Pelo Olhar Duplo, Ao Mesmo Tempo Panorâmico E Intimista. A Canadense Fez Das Pequenas Cidades Espalhadas Pelo Condado De Huron O Território Privilegiado De Sua Ficção E Detecta Nas Franjas Do Meio Rural Aqueles Indivíduos De Algum Modo Deslocados Da Norma. A Velhice, A Doença, O Transtorno Mental Ou A Simples Diferença Com Relação À Maioria Pontuam Os Textos. Em Munro, Há Uma Intuição De Que A Condição Feminina Se Conecta Por Vários Caminhos Com A Marginalidade. Uma Personagem Do Conto Jacarta Sobrevive Dando Aulas De Ballet Depois Que O Marido Jornalista Supostamente Morre Num País Distante; A Protagonista De Ilha De Cortes Deseja Ser Escritora, Mas Fracassa; Pauline, A Jovem Mãe De As Crianças Ficam, Tem Uma Aparência Peculiar Que A Faz Ser Convidada Para Interpretar O Papel De Eurídice Numa Montagem Teatral Amadora, Experiência Que Irá Transformar A Sua Vida. Retrocedendo Da Atualidade À Década De 1950, As Narrativas Flagram Um Período Em Que, Para As Mulheres, O Trabalho Muitas Vezes Servia Apenas Como Um Intervalo Entre O Casamento E A Chegada Do Primeiro Filho. Na Verdade, Tratava-Se De Um Hiato Particularmente Propício Ao Desconforto, Pois Aqueles Foram Os Anos Que Precederam A Revolução Sexual. A Posição Gauche Dessas Mulheres As Aproxima De Zonas Mentais Obscuras, Colocando-As Em Xeque Diante Da Vida Social. É Como Se A Precisão Do Roteiro Traçado Para Os Homens Se Opusessem À Precariedade E À Deriva Dos Destinos Femininos.