Escrever é sempre um ato de coragem. Mas é um tipo de coragem que, sem a sensibilidade, penso não produzir efeitos. E se me fosse pedido para descrever a Alliny por meio de adjetivos, elegeria estes: coragem e sensibilidade. As páginas de seu livro não poderiam ter sido escritas sem a coragem de mergulhar no mar de recordações e sem o vislumbre sensível para extrair algo que pudesse ser posto em palavras. Foi com imenso prazer que recebi o convite para escrever o prefácio do livro da Alliny, convite que prontamente aceitei. Tenho o privilégio de conviver com a Alliny num espaço onde, sobretudo, compartilhamos histórias, escutamos as marcas das heranças familiares na vida daqueles que nos procuram para escutá-los. Meu ofício, do qual compartilho com a Alliny, se ocupa do que mais íntimo há num ser humano: suas histórias. Há histórias que não cabem em linhas retas. Elas se tecem em entrelaçamentos invisíveis, feitos de gestos, silêncios e palavras herdadas. Bença, vó. Bença, vô. O Amor e as lições que f icam, é uma dessas narrativas não apenas um livro, mas um tear onde memórias e afetos se cruzam para criar algo maior que a soma das partes. Nele, a autora nos convida a reconhecer que somos, todos nós, efeito colateral de um entre: entrexistências que nos formam, entrelaços que nos sustentam, entrega que nos transforma. Certa vez, ao ler Mia Couto, me deparei com um trecho que me marcou, li que me marcou. A nossa família sempre é assim, maior que a humanidade. As páginas que vocês, leitores, estão por encontrar dão testemunho dessa grandeza que se materializa através de duas figuras centrais: Hortalino e Maria, os avós de Alliny. Eles não são apenas personagens deste livro. São arquitetos de um mundo que persiste mesmo após partirem. Eles ensinaram que o amor não se anuncia em grandiosidades, mas se esconde no ordinário: no cheiro do café coado ao amanhecer, no ritmo paciente de uma agulha bordando flores em tecido, no colchonete costurado para proteger o tapete e o d
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