Este livro tem como objetivo percorrer um tema muito importante; nele, pretendo demonstrar como uma análise pode nomear o modo de um sujeito viver a pulsão, como aquilo que é mais seu e que insiste em uma vida. O que me inspirou, neste trabalho, foi uma questão sobre o final de análise das mulheres e o incurável. Para pensar como terminam as análises das mulheres, servi-me do significante “arremate”. Quer dizer, para pensar o feminino, entre corte e suturas, entre centro e ausência, em uma oscilação permanente dos modos de gozo. Entretanto, o final de análise das mulheres tem algo de incurável, mas que aposta em um “saber-fazer” com aquilo que, no sinthoma, fica sem inscrição simbólica, apontando para um real que insiste. A clínica do gozo feminino indica um gozo Outro que pode se apresentar de modos distintos e sobre o qual as mulheres nada ou muito pouco podem falar, mas que o experimentam no corpo como uma experiência do ilimitado. Minha experiência clínica também me fez pensar na evidência de um real que insiste do lado mulher, seja na devastação, seja na louca demanda de amor, ou na estranheza que a relação com o corpo promove. Falar desse gozo não quer dizer que apenas as mulheres o experimentam, pois, quando um homem se posiciona mais além do falo, também está no campo do feminino. Assim, o gozo feminino não é um problema de gênero, mas uma modalidade de gozo que pode advir em cada singularidade. Uma análise não é sem fim, mas um caminho que deve ser conduzido a um final. Um percurso do inconsciente transferencial ao inconsciente real, ponto em que o feminino se articula ao infamiliar, em que cada um, de maneira singular, inventa, a partir dos seus “arremates”, uma ferramenta, sua “caixa de costuras”, para abrigar o feminino sempre Outro