O cotidiano de trabalho submete a ecologia corporal e psíquica às normas das rotinas produtivas e espera como resultado o comportamento funcional e adaptativo. Será que as ecologias que constituem o humano: corporal, psíquica, emocional, social e espiritual são capazes de suportar a sobrecarga produtivista do cotidiano moderno? Este processo de racionalização do cotidiano na forma de rotinas produtivas também afeta o sono e os sonhos. Eis que, do encontro entre o rio do cotidiano racionalizado e as águas oceânicas do inconsciente emergem os sonhos e o sofrimento psíquico de cada dia. O cotidiano pode ser narrado nos sonhos, mas dito em outra gramática e sob as regras da satisfação dos desejos. Frequentemente o cotidiano e suas rotinas são projetados na dimensão profunda do sujeito e seu mundo onírico. Esse livro se inscreve nesse território de fronteiras: entre a vigília e o sono, a experiência cotidiana racionalizada e o mundo onírico, o cotidiano objetivado e a espiritualidade. Ao buscar explicação para o estranho fenômeno da sombra psicológica no cotidiano, lanço mão do conceito de psicodinâmica das rotinas: o espírito da rotina e a rotina do espírito. Pretendo buscar respostas na psicodinâmica do cotidiano e nos processos psicossociais, culturais, organizacionais e emocionais, que delimitam a experiência cotidiana.