A pretensão deste pequeno livro é fornecer alguns elementos importantes para uma boa compreensão de O capital, assim como da Crítica da economia política que lhe é inerente. A dialética hegeliana e marxiana, como se sabe, não é a arte da disputa com argumentos plausíveis – não se configura, portanto, como um procedimento de luta meramente ideológica. Segundo Hegel, a verdade não aparece quando se aduz argumentos pró e contra uma tese qualquer, ou seja, se discute por meio do embate de ideias, por meio da oposição de teses e antíteses. Pois, assim, fica-se numa velha compreensão de dialética. Mais do que isso, ainda se fica no exterior da matéria que está sendo supostamente apreendida pela querela em questão. Para compreender a lógica da crítica da economia política importa saber desde o início que a dialética rigorosa contraria conscientemente o conhecimento matemático, porque “no conhecimento matemático, a intelecção é exterior à coisa e, por isso, ele não apreende a coisa verdadeira”. Um teorema e sua demonstração podem ser verdadeiros no quadro dos axiomas postos para supostamente conhecer um dado objeto, o sistema econômico por exemplo, porém, “a demonstração matemática não se constitui numa parte do que é o objeto, mas sim uma operação que lhe é exterior”. Segundo esse filósofo, a dialética é simplesmente o método do conhecimento conceitual. Ela sabe que o mundo é processo de devir e tem, por isso, a ambição de apreendê-lo como movimento, sem cair em contradição. Busca tomar ciência da lógica interna que constantemente o engendra para apresentá-lo – ou seja, apresentar a sua estrutura própria de relações contraditórias – de um modo que considera realista. A sua meta é apreender “o real, o que se põe a si mesmo, que vive em si, o ser aí em seu conceito”, ou seja, por meio da exposição do conceito que lhe seja adequado. Note-se: enquanto a dialética de Hegel é a dialética do espírito do mundo, a dialética de Marx é a dialética do desenvolvimento contraditório do
Marca: LUTAS ANTICAPITAL