Entre Os Discursos De Luciano De Samósata Século Ii Dc Das Narrativas Verdadeiras Sobressai Quer Na Invenção De Múltiplos Monstros Quer Na Proliferação De Admiráveis Cenários Narrador-Navegador Luciano Conta Nos Dois Livros De Prosa De Narrativas Os Périplos A Bordo Do Seu Veleiro Não Só Pelos Confins Da Terra Como Também Pelo Que A Excede Notabilizadas Pelas Expedições Que Ora Sobem Ao Domínio Dos Céus Lua Cidade-Lamparina Ora Descem Ao Reino Dos Mortos Ilha Dos Bem-Aventurados Ilha Dos Ímpios O Propósito Do Discurso Revela-Se No Proêmio Uma Narração Que Lida Com O Que De Nenhum Modo É E Por Princípio Nem Mesmo Pode Vir A Ser I 4 Instala-Se Com Ela Um Dos Paradoxos Que Permeia Todo O Texto Apesar De Abolir De Antemão O Ser Os Episódios Se Sucedem Uns Aos Outros Forjando Seres E Devires É A Instância Instável Do Falso Que Ganha Corpo Animando Prodigiosamente As Cenas Esvaziadas Do Pesadume Do Ser As Palavras Nem Recebem Demarcações Nítidas Nem Buscam Refúgio Em Algum Porto Seguro Pelo Que Errantes Ao Modo Da Tripulação Do Protagonista Elas Avançam À Margem Das Coisas Conhecidas No Rastro Do Sem-Fim Dos Assombros Encenados Tanto É Assim Que Na Figuração As Ilhas Podem Se Apresentar Sob Qualquer Matéria Ilha De Cortiça E Ilha De Queijo Uma Avistada E Outra Visitada Pelos Nautas O Mesmo Vale Para Os Animais Abertos A Toda Sorte De Amplificações E Combinações Que Arrasam A Régua Rígida Das Espécies Do Naturalista Não Menos Extraor