É possível um trânsito entre contextos literários da Grécia antiga que relatam efeitos do phármakon esse remédio/veneno que a palavra portuguesa droga por vezes traduz tão bem e a nossa experiência de uso ou de demonização das substâncias psicoativas? Um anacronismo consciente e controlado é capaz de nos transportar da Grécia às favelas das metrópoles brasileiras? O que Odisseu, Helena e Sócrates têm a nos dizer sobre as qualidades associadas à atmosfera de consumo de entorpecentes? Os mitos gregos e o mito da Grécia podem ser desmontados através da perspectiva de populações marginalizadas? Tais perguntas são o conjunto de ferramentas utilizadas por Erick Araújo em Do Phármakon para abordar o problema da chamada guerra às drogas que na realidade nada mais é do que uma guerra às pessoas negras. Com uma proposta filosófica e ensaística, o autor é extremamente bem-sucedido em friccionar barbarismos gregos e atuais e em mesclar drogas antigas e contemporâneas para iluminar problemas que, se deveriam preocupar a todos, estão longe de atingir a todos da mesma maneira.Luisa Buarque (PUC-Rio)