Alexandre Vannucchi Leme tinha 22 anos e cursava o quarto ano de Geologia na USP quando foi torturado até a morte no DOI-Codi de SP, o mais temido órgão de repressão política da ditadura militar, chamado de "sucursal do inferno" por seu diretor, o então major Carlos Alberto Brilhante Ustra. Aluno aplicado, primeiro colocado no vestibular, Alexandre atuava no movimento estudantil e elaborava panfletos para denunciar violações de direitos e defender a volta da democracia. Um ano antes de ser preso, aproximou-se da Ação Libertadora Nacional, organização que havia sido liderada por Carlos Marighella, e passou a apoiá-la no ambiente universitário. Foi morto no segundo dia de torturas, em 17 de março de 1973, vitimado por uma hemorragia interna, ainda se recuperando de uma cirurgia de remoção do apêndice, feita no final de janeiro. Dom Paulo Evaristo Arns, então arcebispo de SP, decidiu realizar uma missa de sétimo dia na Catedral da Sé. Denunciou publicamente a versão falsa de atropelamento, divulgada pela repressão. A homenagem se tornou a primeira grande manifestação popular de repúdio à ditadura e de denúncia da tortura desde o início do governo Medici, o mais truculento daquele período. Cinquenta anos após sua morte, a história de Alexandre é contada por seu primo de segundo grau Camilo Vannuchi. Jornalista e escritor especializado em direitos humanos, autor de livros-reportagens como "Vala de Perus, uma biografia", editado pela Alameda Editorial e pelo Instituto Vladimir Herzog e finalista no Prêmio Jabuti de literatura em 2021, Camilo foi membro e relator da Comissão da Memória e Verdade da Prefeitura de SP. É professor de jornalismo na Faculdade Cásper Líbero e secretário de Cultura de Diadema (SP). Em "Eu só disse meu nome", uma coedição da Discurso Direto com o Instituto Vladimir Herzog, o leitor e a leitora encontrarão uma narrativa a um só tempo lírica e pungente, que combina memórias com relato jornalístico, num enredo de não-ficção que percorre infância e adolescência de Alexandre em Sorocaba, sua militância no movimento estudantil em SP, uma investigação de fôlego sobre as circunstâncias de sua morte e também o que veio depois: a busca de seus pais pelos restos mortais, a luta por verdade, justiça e reparação, a fundação do diretório central dos estudantes da USP batizado com seu nome e a construção de Alexandre como símbolo de resistência ao arbítrio e de defesa da democracia. A obra também traz, aqui e ali, testemunhos do autor, de sua convivência com a memória do primo e sua permanência.
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