A prosa condensada de Mariel Reis tem como escopo captar um instante fugidio que surpreende pelo hermetismo, o que serve para acentuar a vocação do autor para a criação de situações em que o cotidiano é invadido pelo insólito. A sua assunção do fantástico determina um corpus em que a realidade oferece, com a maior naturalidade, situações estranhas, mas que não visam propriamente a uma decifração, levando o leitor a sair do labirinto do texto muitas vezes sem uma chave adequada para encontrar um sentido. Como em Bebê Turquesa: o bebê comparece como uma súbita iluminação, mas que não permite ao leitor desvendar o porquê dessa imagem surreal. Enfim, cria-se o estranhamento que permanece até a última narrativa, como se pode comprovar pelos excelentes As Velas, O Visitante, A Criatura Flamejante, em que o insólito acaba por desembocar numa discreta ironia. É essa concisão extrema, essa economia de palavras, essa capacidade de desvelar o real, mas ainda ocultando seus sentidos, que constituem os pontos alto da ficção de Mariel Reis. Extravios é um achado dentro de nossa tão esquálida literatura brasileira atual. [Álvaro Cardoso Gomes] Ean: 9786558625018