Estas flores das "Flores do mal" reúnem 21 poemas da obra máxima de Charles Baudelaire (1821-1867), colhidos a dedo e recriados com esmero em língua portuguesa, ao longo de oito anos, pelo poeta Guilherme de Almeida.
Reconhecido por Mário de Andrade e Manuel Bandeira por sua excelência na arte da versificação, Guilherme de Almeida (1890-1969) foi figura de destaque na vida cultural do país na primeira metade do século XX, e exerceu importante influência no movimento modernista brasileiro. Exímio poeta e pensador refinado, foi também um grande e apaixonado tradutor, tendo divulgado o haikai no Brasil e vertido para o português obras de Paul Verlaine, François Villon, Rabindranath Tagore, Oscar Wilde e Tennessee Williams, entre outros. Não foi à toa que, a propósito destas Flores das "Flores do mal", Bandeira afirmou, em texto reproduzido no presente volume, que Guilherme de Almeida sabia "traduzir até diamantes". Sucesso alcançado, explica o poeta-tradutor, porque "sempre soube [estes poemas] de cor e, à força de dizê-los, citá-los e recitá-los, acabei por me surpreender ouvindo-os de mim mesmo, na minha língua mesma".
Além da apresentação de Manuel Bandeira, esta edição bilíngue inclui as notas em que Guilherme de Almeida comenta aspectos do trabalho de recriação de cada um dos poemas, um posfácio crítico de Marcelo Tápia e as belas ilustrações de Henri Matisse, concebidas para uma antologia das Flores do mal publicada na França em 1947.
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Sobre os autores
Guilherme de Almeida nasce em Campinas, SP, em 1890. Formado na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco em 1912, trabalha como advogado até 1923, quando passa a se dedicar prioritariamente à literatura. Publica suas primeiras obras em 1916: Mon coeur balance e Leur âme, duas peças escritas com Oswald de Andrade. Seu primeiro livro de poemas, Nós, vem à luz em 1917; seguem-se, entre outros, A dança das horas e Messidor (1919), e Era uma vez... (1922). Neste ano, atua decisivamente na realização da Semana de Arte Moderna, ao lado de Mário de Andrade, Oswald, Di Cavalcanti e Menotti del Picchia, e participa da fundação da revista Klaxon. Em 1925 publica quatro livros de poemas: Narciso, Encantamento, Raça e Meu, sendo estes dois últimos o ápice de sua poesia modernista. Participa ativamente da Revolução Constitucionalista, após a qual é preso e exilado em Portugal durante um ano. Membro da Academia Brasileira de Letras, sua produção compreende cerca de 75 livros, entre poesia, prosa, ensaio e tradução, além do extenso trabalho jornalístico. Falece em 11 de julho de 1969, em sua casa da Rua Macapá, no bairro do Pacaembu, em São Paulo, hoje um museu dedicado à sua obra.
Charles Baudelaire nasce em Paris em 1821. Com a morte do pai, em 1827, sua mãe se casa com o militar Jacques Aupick, homem de caráter rígido com quem Baudelaire jamais se entenderá. Na adolescência, é um aluno mediano e com problemas de disciplina. Chega a matricular-se na Escola de Direito, mas em vez de assistir às aulas prefere ler as obras de Lamartine, Musset e Victor Hugo. Em 1842 conhece a haitiana Jeanne Duval, com quem terá longa relação e a quem dedicará diversos poemas. No mesmo ano atinge a maioridade e recebe uma vultosa herança paterna. Adota vida boêmia e tem as primeiras experiências com ópio e haxixe. No entanto, acusado de perdulário pela família, é posto sob tutela e passa a receber apenas 200 francos mensais. Para se sustentar, começa a escrever críticas de arte, gênero em que se tornaria um mestre. Em 1850, surgem os primeiros sintomas da sífilis adquirida anos antes; e nessa altura já está fortemente endividado. Em junho de 1857, sai a primeira edição de As flores do mal, sua grande obra e marco da poesia moderna; em agosto, o livro é condenado por ofensa à moral e tem seis poemas censurados. Em 1861, vem à luz uma segunda edição, acrescida de 35 novos poemas. Além desta, suas principais obras são Os paraísos artificiais (1858-60) e Spleen de Paris (os Pequenos poemas em prosa, de 1864). A partir de 1866, sua saúde se deteriora cada vez mais e o poeta falece em Paris, em agosto de 1867.