Único livro de contos de um dos mais inventivos e cultuados escritores brasileiros. Este livro é uma pequena preciosidade. Conhecido pela poesia, Leminski também foi um exímio ficcionista, como se pode notar em livros como Catatau (1975) e Agora é que são elas (1984). Durante anos, o poeta organizou um volume que reunia uma deliciosa seleção de narrativas curtas, crônicas e textos esparsos. Depois de sua morte, o livro foi enviado a seu editor, mas antes que fosse lançado, ele também morreu e o livro ficou perdido. Anos mais tarde, ressurgiu durante uma mudança e ganhou, enfim, sua primeira edição em 2004. O que é, então, esse Gozo fabuloso? Nas palavras do autor, tão imediatamente reconhecíveis a qualquer um de seus fãs, é o delírio combinatório de extrair do restrito infinito dos entrechos possíveis uma história sem par, delícia só comparável à de cantar uma canção bonita. Para a poeta Alice Ruiz, sua companheira e, ao lado dele, organizadora deste volume, é um esquisito legal. Como toda a obra de Leminski, é um livro difícil de definir: erudito, pop, cômico e lírico, tudo isso às vezes num mesmo conto. É o caso de Me escondendo e outros brinquedos, uma evocação da infância que mostra o que ela pode ter ao mesmo tempo de violência e mistério. Ou ainda de Já era uma vez, uma fábula sobre a própria noção de se contar histórias, numa maravilhosa subversão. Assim, Gozo fabuloso fica como um presente para a legião de fãs que Leminski segue angariando a cada geração. Estão aqui a graça, os jogos de linguagem, a capacidade de combinar conhecimento enciclopédico com leveza, a poesia que se apresenta em sucessivas camadas. Sobretudo, a voz única do artista.