No dia 25 de Abril de 1974 um golpe de Estado protagonizado por militares envolvidos em uma dura guerra colonial pôs fim a uma das mais longevas ditaduras do século XX, a ditadura do Estado Novo português. A queda do regime salazarista mexeu com corações e mentes em todo o mundo. Como não poderia deixar de ser, no Brasil, que vivia sob uma feroz ditadura, não foi diferente. As canções de Chico Buarque, eu queria estar na festa, pá , esta terra ainda vai cumprir seu ideal, ainda vai tornar-se um imenso Portugal , embalaram o sonho de novos tempos na antiga colônia portuguesa. Para além dos desejos acalentados, a Revolução dos Cravos possibilitou também o embarque de inúmeros brasileiros que, espalhados pelo mundo em doloroso exílio, viram na estação Lisboa abrigo e porto seguro. A história desses brasileiros é contada por Rodrigo Pezzonia no livro que o leitor tem às mãos. Uma história política de projetos quanto ao futuro. De renascimento e rejeição do trabalhismo; de reformismos e revolucionarismos. Mas é também uma história de vida. De ausências, de saudades e de cotidianos nem sempre acompanhados do glamour que muitas vezes vemos narrados em relatos e memórias. Uma narrativa de tristezas e de alegrias. E, claro está, de novos comportamentos. Para muitos deles, Lisboa foi o último porto antes do retorno ao Brasil. Talvez um porto algo generoso para homens e mulheres que viajaram à revelia de suas vontades por terras física e simbolicamente mais distantes. Dialogando com literatura especializada e excelente volume documental, Rodrigo Pezzonia inscreve seu nome no rol dos historiadores especializados nessa rica história marcada por vivências múltiplas que é a história do exílio.