A realidade do Homem-Urubu No primeiro livro de ficção, Rogerio Skylab flerta com pares de opostos. Suas narrativas têm forte cunho social, mas também exploram o cotidiano, reflexões existencialistas, simulacros e acenos ao realismo mágico. No conto que dá nome ao livro, a dura realidade do protagonista o transforma em um híbrido entre homem e urubu. O narrador não interfere de forma edificante. A desumanidade se impõe sem floreios messiânicos. A identidade humana aparece em diversos momentos, até em abordagens bélicas, que funcionam como metáforas para questões mais profundas. Em Reportagem, um lampejo hiperviolento do cotidiano revela o pouco valor da vida diante das atrocidades humanas. O fantástico e o rés do chão Entre o fantástico e o mundano, até Clark Kent, em Super-Homem, é rebaixado à condição de outsider e enfrenta a brutalidade das prisões brasileiras. Algo semelhante ocorre em Um homem célebre, onde um compositor francês, morando na Rocinha, não consegue lidar com sua inaptidão para compor um samba. O mesmo vale para um triângulo de profissionais envolvendo Frank Zappa e uma possível entrevista. Ou para uma cantora muda. A tônica de Homem-Urubu percorre possibilidades, atrocidades e ruínas — da realidade nacional ou de encontros impossíveis. Há referências a grandes nomes da literatura, como Machado de Assis, Tolstói e Pound. Até mesmo um dia pacato na biblioteca pode se tornar subversivo: basta dobrar a esquina errada. Os contos de Skylab são assim, avessos à obviedade.