Na paisagem da poesia mística, os versos de Kabir alcançam alturas poucas vezes igualadas. Tecelão e iletrado, o grande mestre indiano do século XV discorreu, em linguagem acessível, sobre temas metafísicos da máxima sutileza. Irreverente e acusado de heresia, veio a ser considerado santo por hinduístas, muçulmanos e siques. Transmitidos de geração a geração, seus poemas orais condensam e harmonizam as mais sublimes aquisições do ioga e do sufismo.
Rabindranath Tagore, o primeiro não europeu a conquistar, em 1913, o Prêmio Nobel de Literatura, selecionou e traduziu 100 poemas de Kabir para o inglês. E essa tradução, publicada na Inglaterra em 1915 e retraduzida depois em vários idiomas, tornou o místico medieval amplamente conhecido no Ocidente. Yeats, Auden e Barthes foram alguns dos muitos intelectuais ocidentais impactados por esses versos.
Esses poemas foram, agora, recriados em português por José Tadeu Arantes. Escritor, jornalista e professor, Arantes apoiou-se em sua prolongada familiaridade com os conteúdos e formas das tradições espirituais, resultante de mais de três décadas de estudos e práticas intensivos, para oferecer aos leitores de língua portuguesa um vislumbre do espírito que se pronunciou pela boca do incomparável menestrel.