Em tempos de alegada pós-verdade, quando se afirma não existirem fatos, apenas interpretações de fatos, um escrito que se proponha a investigar a objetividade do conhecimento corre o risco de parecer ultrapassado e conservador. No caso deste livro, porém, cujo tema é a obra de Karl Marx, o risco desaparece. Pois os fatos que constituem o objeto de Marx são bastante distintos daqueles que os adeptos da pós-verdade criticam. Nunca é demais lembrar que Marx, de certa forma seguindo uma tradição que começa com a filosofia jônica de Anaximandro e Heráclito na Antiguidade grega, concebe a realidade como um fluxo animado por conflitos que nunca se desfazem e que exigem uma contínua reconfiguração dos seus termos. O saber que pretende dar conta de semelhante objeto deve se amoldar a esse seu caráter impermanente, que desafia definições definitivas e escapa das mãos de quem o busca munido do conceito tradicional de verdade. Jorge Grespan, no Prefácio *** É possível conhecer a realidade? Essa pergunta levou Flávio Magalhães Piotto Santos a refazer o percurso histórico-teórico de Marx. Se por um lado Marx não mudou o seu objeto (a sociedade capitalista), por outro, os momentos teóricos são distintos. Trabalho sério e rigoroso, este livro trata do caráter processual da pesquisa, da não separação metafísica entre sujeito e objeto e da unidade necessária entre essência e aparência; discute como a compreensão da ideologia não parte da cabeça dos indivíduos, mas de sua prática social; e expõe as categorias como expressões teóricas das condições de produção. Assim, os conceitos brotam da própria realidade histórica.