E preciso aprender a discernir as possibilidades nao cumpridas que dormitam nas dobras do presente. E preciso querer apropriar-se daquilo que se transforma. E preciso ousar romper com esta sociedade moribunda que nao mais renascera. E preciso ousar o Exodo. E preciso nada esperar das solucoes sintomaticas da crise , pois nao ha mais crise - um novo sistema instalou-se e este sistema abole macicamente o trabalho . Restabelece as piores formas de dominacao, de sujeicao, de exploracao, obrigando todos a lutarem contra todos em busca desse trabalho que o proprio sistema aboliu. Mas nao cabe lastimar esta abolicao - o que se deve repudiar e a pretensao de perpetuar como um dever, como norma, como fundamento insubstituivel dos direitos e da dignidade de cada um este trabalho do qual o sistema abole as normas, a dignidade e o acesso. E preciso ousar o Exodo da sociedade do trabalho - ela nao existe mais e nao sera mais restabelecida. E preciso desejar a morte dessa sociedade que agoniza para que uma outra possa nascer de suas cinzas. E preciso aprender a enxergar, por detras das resistencias, das disfuncoes, dos impasses de que e feito o presente, os contornos dessa outra sociedade. E preciso que o trabalho perca sua centralidade na consciencia, no pensamento, na imaginacao de todos. E preciso aprender a ve-lo sob um outro olhar - nao mais pensa-lo como algo que possuimos ou nao possuimos, mas como algo que fazemos. Precisamos ousar e desejar recuperar a apropriacao do trabalho.