: Esse livro é o relato de um nascimento. Antes disso: de uma gestação. Desde seus primeiros passos, o jovem médico Antonio Cescatto percebe, não pode deixar de perceber, que algo ferve em seu interior. Algo se diferencia e o puxa em uma direção que não podia prever. O conflito divide seu espírito. Ama os livros de fisiologia, onde tudo parece se enquadrar e se equilibrar, como em uma ficção impecável. O contato com a literatura e a filosofia, porém, subverte sua mente, agitando-a com perguntas e demandas imprevistas. Marcuse, Durkheim, Kierkegaard entortam seu olhar e abalam o solo estável em que pisa.No momento em que as perguntas se tornam mais potentes que as respostas, algo se rompe e o novo aparece. “Daí pensei nisso: arte provoca deslocamentos. Confunde perspectivas. Cria ambiguidades. Por que não a arte em vez das paredes vazias e descascadas?” Com uma voz firme e sincera, Cescatto nos desvenda laços misteriosos, mas potentes, entre a ciência e literatura. A escrita – ao contrário da solidez dos tratados de fisiologia – o conduz em direção ao incompreensível. “Não entendia por que não se falava de nada que não fosse isso: ciência aplicada.” Ao optar pelo caminho da arte, Antonio Cescatto se embrenha no grande silêncio da dúvida. É desse mergulho no inexplorado que seu livro trata. Por isso, Nada passou em branco não deixa de ser, também, um comovente livro de aventuras.