Através da fotografia, a partir das imagens que luz e sombra evocavam com suas pareidolias, Fabio Giorgi começou a escrever sobre fantasmas da cidade do Rio de Janeiro. Estreante como contista, o autor e fotógrafo uniu algumas de suas fotos que lembram espíritos presos em árvores, sombras de cachorro, grafites encontrados ao acaso, criando histórias que fazem alusão a um tempo que não retorna, misturadas a lendas urbanas. Todas são críveis, porém nenhuma é real, mas bem que poderiam ter acontecido. São 20 contos curtos e inesquecíveis. Trecho de "Maria vai com as outras": "Bem cedo, logo após o nascer do sol, um vulto começa tomar forma nas proximidades da Bica da Rainha. Em poucos segundos, é a figura de uma senhora idosa, com o rosto aflito, parecendo completamente perdida, olhando para os lados, como se procurasse alguém. A agonia da aparição só se encerra, quando as figuras de outras quatro senhoras surgem para ampará-la, e conduzi-la até a bica, quando todas desaparecem. "Bugiardo testemunhou uma dessas manifestações, e é categórico ao declarar de que se trata de Dona Maria I, a Louca, e suas damas de companhia, que sempre iam até aquela fonte, acreditando em seus poderes terapêuticos. "O fato de sempre surgir sozinha e perdida, para depois ser resgatada por suas damas torna esta aparição especialmente perturbadora. O medo estampado no rosto da senhora parece, de alguma forma, afetar quem a avista. O desconforto não é permanente, durando só até o momento em que Maria se vai com as outras".