Entenderão melhor este comentário aqueles que, em algum período de suas vidas, tenham conhecido um regime de exceção, de esquerda ou de direita. Melhor ainda: aqueles que, por alguma razão, tenham convivido com notáveis (e pretensos notáveis) do governo central; tenham testemunhado o seu cotidiano, suas ambições e ascensões; suas ansiedades, tramas e dramas: vaidades e ardis. Aqueles que tenham aprovado o poder reinante como necessidade conjuntural, ou lhe tenham feito restrições. As vinte e uma referências musicais complementam o presente trabalho. Elas têm, de certo modo, alguma ligação com os diversos atores desta encenação; têm ligações com suas personalidades, suas vontades em função de cargos e privilégios; com suas ambições, posições de mando ou de subordi-nação, dentro da escala de valores que distingue as elites numa determinada conjuntura. Ligam-se, de alguma forma, a momentos vividos, fazendo emergir alegrias, saudades, nostalgias e frustrações. Assim é que, em as ouvindo, se poderá compreender e até compartilhar com Octacílio Calcabrini as suas reações durante o concerto da Grande Sinfônica de Santo Isidoro, no Theatro Municipal, quando do aniversário dessa metrópole. Va, pensiero, o cântico de vitória da ópera Nabuco, com seus apelos de vibração, está presente em diversos momentos destas páginas. Giuseppe Verdi, evocando a trajetória dos judeus no cativeiro da Babilônia, sob o cetro de Nabucodonosor, vale-se da ópera para conclamar os italianos a reviver igual sentimento de fé, de esperança, de entusiasmo e de coragem quando do Risorgimento , o que resultou na Proclamação de Victtorio Emanu-elle II, em 1861. Va, pensiero certamente inflamou os fascistas de Mussolini em 1922, na marcha sobre Roma. Agora, num outro momento histórico , esse maravilhoso cântico de Verdi contagia personagens deste relato, a ponto de induzir alguns a atitudes insensatas, tangenciando a irracionalidade.
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