Quando do doutoramento, de que este livro era a tese, lembro-me de ter observado ao autor (o jovem professor Caio Boschi) que gostaria de ver o texto iniciar-se com uma narrativa acontecimental documentada para, só depois e aos poucos, passar à análise interpretativa; ao que, muito mineiramente, ele obtemperou que também no meu livro não se tinha realizado a difícil façanha; ao que redargui que não me propunha como modelo, apenas indicava o arquétipo do discurso historiográfico moderno, clivado entre narrar e explicar. Naqueles verdes anos, lidávamos dificultosamente com aquela clivagem. Isto é, com a tensão inerente ao discurso historiográfico entre narrativa e explicação, isto é, com as relações da história com as ciências sociais, ou mais precisamente com a questão da especificidade da história no quadro das humanidades; o que implicava o grau de cientificidade de nossa disciplina e o problema das ciências exatas ou naturais e inexatas ou humanas. Se hoje temos alguma clareza nesse campo, distinguindo por exemplo ciência (social) retrospectiva e história como estilos de discurso, também compreendemos melhor que, de um ponto de vista do exercício do oficio, o modelo passionalmente desejado consiste enfim num equilíbrio entre os dois componentes do discurso do historiador contemporâneo. E então podemos entender o êxito permanente (primeira edição, 1986) deste livro sobre as irmandades, confrarias e ordens terceiras na capitania de Minas Gerais. E, agora, felicitamo-nos por integrá-lo em nossa já consagrada coleção. Marca: Não Informado