Em 8 de março de 1914, aos 25 anos de idade, o poeta português Fernando Pessoa teve um insight e, naquilo que ele chamaria mais tarde de ''dia triunfal'', criou seus três principais heterônimos, Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Deu-lh es, além do nome, uma biografia, um biotipo e, sobretudo, uma obra e um estilo poético únicos. Trata-se do único caso de heteronímia de toda história da literatura universal. Álvaro de Campos era, segundo Pessoa, ''o mais histericamente histérico de mim'', era engenheiro, usava monóculo, e o poeta escrevia sob o seu nome quando sentia um súbito impulso de escrever não sei o quê. Campos é o heterônimo da modernidade, da euforia, da irreverência total a tudo e a todos, cultuador da liberdade, sede nto por experimentar todas as sensações a um só tempo e profundamente influenciado por Walt Whitman. De sua lavra são os célebres versos de ''Opiário'', ''Ode trinfual'', ''Lisbon revisited'' e ''Tabacaria'' - este último considerado dos mais belos p oemas da língua portuguesa.