O começo preciosa gema é um dos versos deste livro de estreia da poeta e bailarina brasiliense Nadja Rodrigues de Oliveira. Dentre muitas outras coisas este é, também, um livro sobre gestar e sobre as diferentes formas de nascer e germinar. Se a potência da semente geradora já está no próprio título: povo, ovo, nascentes, este carrega em seu bojo também a consequência lógica das coisas que são impulsos de vida: são também formas de morrer. Ao que nascer (e morrer) nunca é simples, Nadja nos conduz com sua voz ritmada e encantatória por seus versos elegantes até estarmos muito perto desses núcleos celulares que dançam, caem, amam, se quebram. São como feitiços da fluência que, embora tratem da dureza e da queda, são também macios e táteis. São eróticos. [...] Assim, a busca pela origem em sentido amplo, seja das palavras, dos gestos ou da própria vida, pode ser encontrada aqui a partir de alguns rastros que a autora deixa com suas referências. Fazendo ecos de Clarice, Freud, João Cabral entre outros fantasmas que sussurram em seu ouvido, – aqui eles não estão nem acima dos céus e nem abaixo da terra – ela nos mostra que estamos todos ao mesmo tempo. Nadja canta numa dicção própria, numa melodia que trama uma forma de permanecer. Assim como o ovo, rito de duração, objeto mítico, ela nos ensina que embora o ovo vele o vindouro, o ovo também é o dom da perda.