Desde o título, Primevo, que nomeia o livro, há uma sugestão dupla: o primitivo e a primavera, no sentido etimológico de primeira idade. Pode-se dizer que o livro fala poeticamente das lembranças e sensações primeiras. Primevo lança mão de um repertório de imagens único, em cuja pujança se irradia uma origem tocada pelo território primitivo da poesia. Atualiza as raízes arcaicas da lírica por vias da dicção contemporânea de um sujeito poético que pressente a falta e deseja a criação, apesar de sua pobre dimensão salvadora: “o crepúsculo já se anuncia/ e a dor dói em mim/ as letras não me salvam/ Não haverá leitor para essa dor/eu própria não sou senhora dela”. O livro inventa rumos para uma tradição que aposta no cotidiano e na sensibilidade para um enriquecimento dos materiais temáticos da poesia brasileira contemporânea: “o coração não indaga o caminho/ segue rápido/ chega a terras áridas/desbrava o primevo”. [Pedro Couto] Marca: Não Informado