Um dos mais interessantes capítulos da literatura de qualquer tempo, no Ocidente ou no Oriente, é o registro poético, em verso ou prosa, da experiência do cárcere. Desde Ovídio (43 a.C./18 d.C.), o poeta romano, passando por Máximo Gorki e Alexander Soljenítsin na Rússia moderna, os mais diversos motivos que levaram escritores e poetas à prisão resultaram em obras que são testamentos literários. No Brasil, não foram poucos os que, sob o cerceamento da liberdade, produziram textos pontuais. Reunindo poemas de temática lírica e como não podia deixar de ser de vertente notadamente política, este livro do ex-deputado João Paulo Cunha (PT-SP), condenado no mensalão e hoje em prisão domiciliar, revela o retrato íntimo de alguém que, diante da impossibilidade de atuação pública, recorreu à poesia para sobreviver. Com extrema coragem, ele discorre sobre o cotidiano na prisão (a penitenciária da Papuda, em Brasília), expondo as emoções de um homem em estado extremo, despido do poder, do direito de ir e vir, e de toda e qualquer vaidade. E soube fazer isso com poemas de alta qualidade. Ean: 9788574752457