Quieto

O título do livro já indica uma poesia de tom intimista. Uma das chaves principais de leitura é a passagem do tempo: “Envelheci sinceramente / Antes que notasse as estrelas, nasceu / – Em asas miúdas – o mais livre / De mim.” Uma “locomotiva enferruja ao entardecer” enquanto “Os minutos latejam e empurram o tempo / Sem deixar vestígio sem fazer ruído”, e assim o poeta nos traz como um presente o voo da vida, em imagens de rara beleza. Não é à toa que a terceira e última seção do livro se intitula “Tempoemas”, nos levando numa viagem pelos mais variados cenários da memória. Outra chave importante é o amor, capturado em suas mais diversas formas nos poemas de “Euteamotantoati”, ou talvez condensado e resumido na invenção dessa única palavra, bem como nos versos finais de “Adeus”: “Só o adeus decifra o que é preciso / Quando não há mais nada a ser dito”. Entre o tempo com suas lembranças e a vivência profunda dos sentimentos, e ainda com as forças incessantes da natureza atuando na composição dos cenários mais íntimos, Eduardo Lapinha apresenta uma obra intensa e criativa, que ecoa as melhores tradições da poesia brasileira, nos moldes de Bandeira, Drummond e Quintana. Afinal, como lemos aqui na sua voz, “O poema é o espelho / Da alma do poeta /Quem lê o poema, / Olha o espelho”. É no espelho de livros e de autores como este que podemos encontrar, no outro, aquilo que está presente também em nós – e que só os verdadeiros poetas sabem traduzir e revelar