Ocorrido no dia 13 de maio de 1833, o motim resultou na morte de dezesseis pessoas, das quais nove integravam a rica e influente família de Gabriel Francisco Junqueira (1782-1868), primeiro barão de Alfenas. A violência dos insurgentes – com requintes de crueldade, que incluía emasculação e decapitação das vítimas – não poupou nem crianças da casa grande, mobilizando dezenas de escravizados que explicitamente desejavam a eliminação física de seus senhores como forma de conquista da liberdade. Liderada por Ventura Mina, escravizado africano de quem pouco se sabe, a Revolta de Carrancas terminou no mesmo dia, com a morte do líder em combate com as forças de repressão e com a prisão dos demais revoltosos. Dezessete amotinados foram condenados à forca, na maior aplicação da pena de morte na história de sua vigência no Brasil. Nem mesmo a célebre Revolta dos Malês, em Salvador (BA), em 1835, teve tantos sentenciados à pena máxima. A elite escravista ficou de tal modo chocada com a rebelião mineira que fez aprovar, no parlamento imperial, legislação ainda mais severa contra qualquer pessoa escravizada que atentasse contra a vida de seus senhores e familiares. Surge assim a “lei nefanda”, de 1835. Diante de tamanha violência, e principalmente do cuidadoso silêncio que a própria aristocracia fundiária da época ergueu sobre a insurreição, Joaci Pereira Furtado empenhou-se na escrita desse breve mas contundente texto, na expectativa de romper tal silêncio e popularizar a reflexão sobre os inúmeros significados da Revolta de Carrancas – cujas motivações ainda ecoam na sociedade brasileira. A pesquisa documental – incluindo a descoberta do processo judicial da Revolta de Carrancas – e parte das análises contidas neste texto são do historiador Marcos Ferreira de Andrade, professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São João del-Rei, cujo trabalho o presente ensaio pretende divulgar. Marca: MADAMU **