Estamos Com Ruy Espinheira Filho Em Samarcanda. Não Vamos Longe De Ciméria Ou De Pasárgada. Estamos Com Manuel Bandeira E Oswaldino Marques. E Por Que Não Evocar A Rua Lopes Chaves, Que É O Mesmo Que Dizer Mário De Andrade A Poucos Passos Da Oficina Irritada De Drummond. Toda Uma Constelação De Eventos, Ao Que Ruy Completaria: Et In Arcadia Ego. Arcádia Metafórica, Bem Entendido, Viva, Contemporânea, No Registro Forte Da Poesia Brasileira, Em Cuja Altitude Se Inscreve Samarcanda, Com O Soberbo Rigor Do Artista, Que Sabe Trovar Claro, Porque Domina As Formas Do Trobar Clus. Ruy Não Se Prende Àquelas Fontes. Aproxima-Se Para Se Afastar. Não Subsistem Aqui Resíduos De Uma Angústia Da Influência. Samarcanda Não Está Em Parte Alguma. É Uma Espécie Rara De Não-Lugar. A Única Geografia Capaz De Abrangê-La Talvez Se Desenhasse No Coração Da Língua Portuguesa, Sob A Diferença Específica Dos Ventos Que Sopram Neste Livro. Chuva E Tempestade. A Longa Paciência Dos Dias. E Toda Uma Dimensão Líquida E Transparente Nos Modos De Sentir. E De Seus Belos Instrumentos. O Corpo Transparente Da Palavra Assumida Numa Biografia Aberta. É A Obra Mais Livre E Calculada De Ruy. Mais Dolorosa E Alegre. Mais Aflitiva E Serena. Temperada De Ironia E Comoção. Superou-Se A Si Mesmo Na Altitude Deste Céu, Na Luz Generosa Das Quatro Vogais Que Produzem O Som Altivo E Claro De Samarcanda.Marco Lucchesi