Terror não tem tamanho

Há um frêmito subterrâneo que parece percorrer os escritos de todo escritor fantástico na modalidade terror. De Poe a Stephen King, os maiores nomes do gênero levantam, com suas obras, uma espécie de aviso a uma humanidade voltada para o avanço técnico, o cientificismo e o ceticismo. Aí resida, talvez, o que se possa chamar, com alguma ousadia, de poética do horror. Seus autores parecem advertir o gênero humano sobre as mais recônditas sombras nas regiões cinzas da percepção e da conformação da realidade. Nas fímbrias dos acontecimentos calculáveis e apreensíveis pela mente em suas manifestações cognoscíveis, existe, lá onde dormem os mitos há muito esquecidos, os deuses perdidos, os irmãos de Saturno a que se referia Ricardo Reis. Gilson Pessôa surge na cena literária brasileira como o mais novo mestre do gênero. Espécie de arauto dos subterrâneos da realidade fantástica, que bruxuleia, como um fogo-fátuo, entre a realidade e o sonho. Para os gregos antigos, tratava-se do mundo ctônio, ou seja: as latitudes subterrâneas, estabelecidas em contraste com a dimensão olímpica, apolínea, luminosa inspiração para a Renascença e o Iluminismo, conformadores do mundo contemporâneo.Allyson de Sousa.
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