Eu era um escritorzinho fajuto. chinfrim. daqueles que suam a testa e só suam. sentia-me o mártir da literatura. o cristo das letras. o benfeitor dos livros. de todas as formas eu tentava e tentava e tentava. até que um dia, extenuado de tanto esmurrar a ingreme parede ilegítima e inconformada da incompreensão decidi escalar o panteão dos extremos. invoquei o meu anjo da guarda. é muito simple, é só fazer uma oração, disseram-me... "amado anjo da guarda, amigo íntimo e companheiro, peço-lhe para me abençoar neste dia. guia-me nos meus pensamentos, palavras e ações, e protege minha alma. ajudar-me a ser um escritor renomado e reconhecido. eu, meu nome, libero minhas intensões a seu cuidado. leve as minhas intenções para o amor, graça e presença divina." ... e assim procedi uma vez... duas... três milhões de vezes e nada do meu anjo desviar-me a mínima atenção. nada. deste demérito sou íntimo. compartilho-o desde o meu sempre o malfadado espectro do vilipêndio. suguei neste ínfimo porém sofrível desprazer a última gota desta fruta cítrica denominada fé. anjos desexistem.