O jornalista e historiador Osvaldo Bertolino é um biógrafo de primeira grandeza. Já empregou seu talento para narrar a vida e a luta de revolucionários maiúsculos como Maurício Grabois, Pedro Pomar, Carlos Danielli e Vital Nolasco. Mais recentemente, também a trajetória do operário Aurélio Peres, cuja atuação no movimento popular de São Paulo o conduziu à Câmara Federal, primeiro pelo MDB, depois pelo PCdoB. Agora, com este Tom – fé e luta pelo socialismo, Bertolino nos guia em uma viagem carregada de significados pela caminhada de outro revolucionário paradigmático, o ex-padre Antônio de Almeida Soares, o Tom, militante e dirigente da organização revolucionária Ação Popular (AP) e, mais tarde, do PCdoB. Bertolino trabalhou por cinco anos tomando depoimentos, escavando documentos em arquivos públicos e privados e esquadrinhando publicações. Ao denso material coletado, somou seu vasto conhecimento dos cenários políticos do Brasil e suas interpretações. Ao cabo dessa minuciosa investigação, ergueu o edifício deste relato, que agora temos diante dos olhos e que nos traz a longa jornada de Tom, que ocupou sete décadas do século XX, desde o nascimento, em dezembro de 1929, numa família pobre e religiosa de Piratininga (SP), até o momento agônico, 3 de novembro de 2003, derrotado por um segundo câncer. Página a página deste Tom – fé e luta pelo socialismo, estamos diante de uma figura extraordinária, que Bertolino revela com sensibilidade e esmero. Um sacerdote católico que vestiu a batina em 1953 e a envergou, sob a forte inspiração dos ares renovadores do Concílio Vaticano II, como instrumento de luta em favor dos deserdados na cruel realidade capitalista. Tom compôs o extenso rol de padres e bispos (e até mesmo alguns cardeais) que, naqueles anos efervescentes da década de 1960, no Brasil e no mundo, lançaram-se ao mundo temporal com fome de justiça e por ela lutaram com obstinação, mesmo em circunstâncias dramáticas – e quantas vezes trágicas –, como a ditadura militar instaurada no Brasil em 1964. (...) A biografia de Antônio de Almeida Soares não estaria completa sem uma referência muito particular à figura de Anna Maria Martins, com quem ele se casou em dezembro de 1970, teve dois filhos e a quem se referia amorosamente como “minha Anna”. Filha de uma família pobre de imigrantes portugueses, quando criança conviveu com bêbados e valentões no bar que o pai mantinha no Largo de Pinheiros, trabalhou na roça e morou em casa de pau a pique. Operária desde cedo, já aos dezessete anos militava na JOC e trabalhava na alfabetização de adultos na periferia paulistana com o método Paulo Freire. A despeito das dificuldades financeiras, conseguiu formar-se em Serviço Social, em 1968. Logo estaria na liderança do Movimento do Custo de Vida, junto com Aurélio Peres e, nas décadas seguintes, compartilharia com Tom a luta operária e popular, as agruras do enfrentamento da ditadura. Em 1992 foi eleita vereadora pela legenda do PCdoB e, em 2002, deputada estadual. A trajetória de vida de Antônio de Almeida Soares, o Tom, é o retrato fiel de uma época de revolucionários inteiramente dedicados à obra da transformação social, disciplinados, conscientes e coesos, cujos valores precisam ser difundidos e valorizados para resgatar, nos dias de hoje, um sentido de humanidade que parece perder-se na atmosfera da crise civilizatória do novo século.