Livro - Fernanda Lopes de Almeida - Soprinho: O segredo do Bosque Encantado

Brilhante em todos os sentidos. Assim podemos classificar a 19ª edição de Soprinho - O segredo do bosque encantado, de Fernanda Lopes de Almeida, que traz novas ilustrações e um novo projeto gráfico.

A primeira edição de Soprinho data de 1971, mesmo ano em que foi contemplado com o prestigiado prêmio Jabuti de melhor livro infantil.

A natureza de sua narrativa é a do encantamento infantil, tecida com maestria pela autora, que privilegia o lirismo e a delicadeza em sua história. Os cenários desenhados pelo ilustrador Odilon Moraes compõem com requinte uma paisagem de rara beleza e bom gosto.

A história começa quando Soprinho, um menino feito de fumaça azul, entra pela janela e convida Roberto (o Chefe), Teresinha, Helena e Luisinho a conhecerem o Bosque Encantado. Mas, para tanto, eles precisam entrar pela porta certa. Soprinho esclarece: "Existem diversas maneiras de entrar num bosque, mas só se pode ver o encantamento dele entrando pela porta encantada".

Daí em diante é como se as quatro crianças estivessem explorando um outro planeta. São tantos os personagens e tantas as aventuras de que as crianças participam que o fôlego dos leitores chega a ficar curto. Eles conhecem, por exemplo, os Geniozinhos do Bom Tempo, servidores da Rainha do Bosque; o Mágico Vento e a delicada Sementinha; o Gigante Surumbamba e uma legião de fadas, duendes, anões, mágicos e animais.

Para saber a razão de Soprinho ser tão convincente em sua estrutura marcada pela fantasia, vale a pena prestar atenção no depoimento de Fernanda Lopes de Almeida incluído nas páginas finais do livro. "Nasci no Rio de Janeiro e sempre tive o privilégio de morar em casas cercadas de vegetação", diz.

Mais adiante ela conta: "Na casa do meu avô paterno, onde a família se reunia religiosamente todos os domingos, havia também um grande jardim. Ali brincávamos de tudo que a imaginação das crianças é capaz de criar, quando deixada solta. Uma de nossas brincadeiras favoritas era a de exploradores. As aventuras continuavam a cada domingo, em capítulos. Tínhamos até um tesouro, escondido dos olhos dos adultos, em um lugar onde as árvores eram mais fechadas e só nós conhecíamos".

Em seguida, Fernanda revela: "Foi desse mundo de mistérios, de pernas esfoladas nos espinhos e de mãos cheirando a folha esmagada, de bichinhos variados, com os mais surpreendentes chifrinhos e antenas, que provavelmente Soprinho começou a nascer".

Soprinho pode ser compreendido como uma meticulosa lição de como lidar com a natureza, aos olhos inocentes das crianças. Todos os personagens cumprem uma função no contexto da narrativa, seja nos dias de sol, nos de chuva, ou naqueles em que venta muito. É, em resumo, como se Soprinho fosse também uma força da natureza.