O Calvário do Homem do Javari conduz o leitor a uma imersão no Vale do Javari, região amazônica de riqueza natural e cultural, mas marcada por ciclos de exploração, conflitos e adversidades. A narrativa acompanha o povoamento da região, desde a fundação de vilas, como São José do Javari (Benjamin Constant), e São Francisco Xavier de Tabatinga, passando pelas comissões de limites que definiram a fronteira Brasil-Peru, até o auge e decadência da vila de Remate de Males. O livro detalha o período do ciclo da borracha e do cauche, expondo a dura realidade dos seringueiros submetidos a jornadas extenuantes, doenças endêmicas e choques com povos indígenas e a organização social dividida entre seringalistas e trabalhadores. A migração nordestina, os costumes familiares, as lendas e os mitos locais dão cor à narrativa, que mescla história e cultura. A decadência dos seringais e a transferência do centro de atividades para Cametá, futura Atalaia do Norte, marcam o fim de uma era. No entanto, o autor não se limita à crônica econômica: ele dá voz aos anônimos indígenas e migrantes , revelando sua resiliência e capacidade de adaptação. O estilo de Manoel Felipe de Almeida combina pesquisa rigorosa e vivência pessoal. Sua linguagem é acessível, mas carregada de imagens vívidas e simbolismo, como no uso de expressões Éden do Javari ou pérola do Javari. A paisagem e os elementos naturais, ora aliados, ora ameaças, refletem a dualidade de um território que é fonte de vida e palco de sofrimento. Estruturada cronologicamente, a obra intercala fatos históricos com relatos orais e memórias, criando uma narrativa viva e imersiva. A presença de lendas, como parte inseparável da história, confere profundidade cultural e espiritual ao texto. Mais que um registro histórico, Remate de Males é um testemunho da luta de um povo. A obra valoriza a memória e denuncia as injustiças, aproximando-se do regionalismo e da literatura de denúncia social. Trata-se de um tributo à força e à dignida